Especial: Prédios históricos sofrem com a burocracia e o vandalismo


Restauro da Igreja São José aguarda decisão do Ministério da Cultura; Arquiteta responsável pelo projeto de restauro diz que situação da Igreja é precária.

A correria do dia a dia e as transformações das nossas cidades em verdadeiras selvas de pedra nos fazem, muitas vezes, não perceber o quanto prédios históricos estão sofrendo. Seja por causa da burocracia em seus processos de restauro ou por causa dos atos de vandalismo.

Em Pindamonhangaba é possível encontrar dois exemplos desta realidade: A Igreja São José e o antigo prédio da Câmara Municipal, o Palacete Tiradentes. O primeiro está interditado há três anos, a situação chega ao ponto das ruas no entorno terem sido bloqueadas, devido ao alto risco de desmoronamento. E o segundo, depois de deixar de ser a sede do legislativo, sofre com a ação do tempo. A pintura da parte externa foi pichada com palavras de ordem.

No dia 19 de outubro do ano passado o então prefeito da cidade, João Ribeiro (PPS), divulgou uma nota no qual informava que teria assinado um acordo em que aprovava o projeto da ‘Empresa Pauliceia Arquitetura, Restauro e Projetos Culturais Ltda’ para a restauração da Igreja São José.

A partir deste acordo a empresa daria andamento ao projeto para captar recursos por meio da lei de incentivo á cultura, Lei Rouanet. Também dizia a nota: “O projeto de restauro já está pronto e aprovado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), e está previsto para começar em janeiro de 2013”. Na época o projeto foi orçado em R$ 6 milhões.

 

As obras, no entanto, ainda não começaram e esbarram na burocracia. O projeto de restauro está no Ministério da Cultura aguardando autorização. Só depois disso será possível buscar na iniciativa privada ajuda financeira para a viabilização da reforma.

Conversamos com a arquiteta Rosângela Biasoli, da empresa Pauliceia. “O estado de conservação da Igreja São José é precário, quando do início das obras será estudada qual a melhor maneira de sanar os danos causados na estrutura da Igreja. Como existem trincas também no solo, provavelmente as causas dessa movimentação do prédio se deram por conta dos enterramentos que existem na lateral direita do altar, onde estão os despojos de 10 homens que compunham a Guarda de Honra de D. Pedro I, os mesmos pindenses que são retratados no famoso quadro de Pedro Américo. Quanto à restauração, primeiramente serão executados os reforços estruturais visando a estabilização da edificação e a correção das várias patologias. Uma vez sanados todos esses problemas e estando a edificação consolidada, se dará propriamente a restauração que começa pela cobertura, depois as instalações de elétrica e hidráulica, pisos e paredes e só depois se iniciam os acabamentos de pintura e tratamento das fachadas, das portas e janelas”.

Sobre os custos do projeto Rosângela disse: “O restauro foi orçado em 2011 em R$ 6.234.628,50 incluindo todas as obras, e a edição de um livro com a história da Igreja, a previsão de duração da obra é de dois anos caso haja verba contínua”.

Quem passa pela Igreja São José, no Centro da cidade, se assunta com o que diz uma placa fixada no local: “Via interditada, alto risco de acidentes”. “A interdição aconteceu porque existem enormes trincas atrás do altar e nas janelas laterais, e que com a trepidação causada pelo trafego de veículos podem aumentar. Os locais de maiores riscos de desabamento já estão escorados aguardando uma intervenção maior, mas os danos maiores podem vir a acontecer se o início desta intervenção venha a demorar”, garante Rosângela.

O padre Luiz Carlos de Souza disse que fica triste ao ver a situação da Igreja. "Muita tristeza de ver essa igreja tão antiga, tão importante para nossa cidade aos poucos quase caindo”.


Ao lado da Igreja São José está o Palacete Tiradentes, antiga sede da Câmara de Vereadores de Pindamonhangaba. O local fechado desde dezembro de 2008 também sofre com o tempo. Do lado de fora é possível observar que as janelas, que são de madeira, estão com cupins e a pintura é alvo de pichações com palavras de ordem.

Nossa reportagem procurou a Assessoria da Prefeitura para saber se há algum projeto de restauro relacionado ao antigo prédio da Câmara e se ele poderá será usado pela administração de alguma forma. Mas até o fechamento desta reportagem não havíamos recebido uma resposta. O Ministério da Cultura, por enquanto, também não se manifestou.

Um pouco de história

Igreja São José.
Sua construção foi iniciada em 1840 e concluída em 1848, em substituição à primeira capela, que estava localizada ao lado do antigo mercado e havia sido destruída pelo tempo. Suas paredes são de taipa de pilão. A igreja foi construída pela família Godoy, sendo destinada ao culto e também à capela cinerária. O prédio fica na Praça Barão do Rio Branco, centro da cidade, e é tombado pelo Condephaat.

Palacete Tiradentes. O prédio que sediou por muito tempo a Câmara foi inaugurado no ano de 1864, situado no antigo Largo São José. Sediou a Câmara Municipal no piso superior e Cadeia Pública no térreo até 1913. Serviu como instalação provisória da Faculdade de Farmácia e Odontologia até a transferência da escola para o Palacete Visconde da Palmeira. Logo depois o prédio foi doado à Congregação das Irmãs Franciscanas, que instalaram ali o Externato São José. Em 1976 foi vendido a particular e posteriormente tombado como patrimônio pelo CONDEPHAAT em 1981. A partir de 1984 foi alugado para novamente ser instalada a Câmara de Vereadores, recebendo oficialmente o nome de Palacete Tiradentes. Em 2008 a Câmara foi transferida para sua sede própria, localizado no loteamento Real Ville e denominado Palácio Legislativo Dr. Geraldo José Rodrigues Alckmin.