Uma mesma opinião: dois pesos, duas medidas - o efeito chicote dos compartilhamentos.

A velocidade com que as informações se espalham tem causado uma série de situações que merecem a nossa reflexão. Acredito que o mais prudente seja aguardar os efeitos dos fatos, para que depois possamos analisar. Certamente, quando emitimos uma opinião, a cerca de um fato que provoca comoção nacional ou social,  ela carregará consigo um pouco de parcialidade, proporcionada pela emoção de momento.

Recentemente a hashtag #somostodosmacados inundou nossas redes sociais com demonstrações contrárias a atos de racismo. Assim que a campanha foi iniciada pelo jogador Neymar muitos foram na 'onda' e imediatamente reproduziram a hashtag. Mas momentos depois descobriu-se que a atitude do jogador Neymar era fruto de uma campanha publicitária. Ou seja, seus seguidores e todos os que imediatamente compartilharam aquela proposta, foram, de certa forma, 'usados'.

Mas a culpa é de quem entrou na campanha de forma imediatista ou do jogador que aproveitou a oportunidade para ficar um pouco mais rico? Talvez essa resposta esteja na necessidade que temos de aparecer, de fazer parte do grupo. Estamos vivendo um efeito chicote do compartilhamento desenfreado da informação. Antes de participar de uma campanha, defender um ideal, emitir uma opinião, é preciso analisar seus valores, suas idiossincrasias pessoais.

Eu não sou macaco, porque acredito que evoluímos. Somos muito mais que macacos. O mais interessante é que nem mesmo o jogador Daniel Alves, alvo do ato de racismo concordou com a hashtag, publicando em seu perfil horas depois #somostodoshumanos. Aqui também é possível avaliar o poder de um líder de opinião, e o quanto podemos ser manipulados. Ou ainda, o quanto nos deixamos manipular. Mesmo acreditando que, com o acesso a informação, essa realidade seja diferente.

Mas vamos ao título deste post: este efeito chicote do compartilhamento desenfreado e esse poder dos líderes de opinião, quando juntos, podem provocar verdadeiras tempestades. Há quase dois meses a jornalista do SBT, Rachel Shererazade, emitiu uma opinião no mínimo polêmica. e foi alvo de inúmeras críticas. Alguns acreditam até que Rachel foi vítima de censura.

O fato: 'vingadores' do RJ amarraram um adolescente nu, que cometia assaltos na região central da capital fluminense, a um poste com uma coleira no pescoço. A jornalista, no telejornal SBT Brasil, disse que por causa da sensação de insegurança era possível entender a ação destes 'vingadores'. Vamos relembrar!



Não quero e nem é a minha proposta analisar se Rachel está certa ou errada. Até acredito que ela poderia ter dito tudo o que disse, mas de uma outra forma. Agora que ela foi alvo de críticas e situações um pouco exacerbadas, isso foi. Arrisco-me até a dizer que foi 'bode espiatório' de algo que um dia descobriremos. Mas aquele efeito do compartilhamento pode ser observado quando profissionais de imprensa compartilharam a opinião polêmica com textos, muitas vezes, anti-éticos. Se as palavras fossem ditas e os textos fossem escritos tempos depois, certamente, não seriam tão agressivos.

Para ler no site da Folha,
clique aqui: http://goo.gl/lJy9be
O curioso é que, recentemente, a jornalista do jornal Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, descreveu em sua coluna um fato semelhante, e disse: "E é assim, pelo cansaço, que as pessoas vão desistindo de fazer a coisa certa. E algumas passam a fazer a coisa totalmente errada. Daí surgem enlouquecidos que amarram um jovem ladrão num poste, espancam cruelmente outro e são capazes de cercar, jogar no chão, dar pauladas e passar com um bicicleta em cima da cabeça de uma moça indefesa, mãe de dois filhos".

Qual a diferença, na essência, entre o que Rachel disse e a Eliane escreveu? Guardadas as devidas proporções, respeitando todas as opiniões contrárias, mas vejo que uma mesma opinião tem dois pesos e duas medidas. Uma, provavelmente, foi alvo de um fenômeno que ainda merece ser desbravado pelos estudiosos. Outra, conseguiu passar ilesa às críticas mais pesadas. Mas se procurarmos, muitos jornalistas já disseram o que estas duas compartilharam. Não que concorde, mas é preciso ter cuidado para que chuvas não se transformem em tempestades com vítimas fatais.