O resultado das últimas eleições, em 2014, revelou que o Brasil vive uma grande crise de identidade. Daquelas que não sabemos o que queremos e, principalmente, para onde vamos. Um Brasil, literalmente, dividido, por dois candidatos e não por duas propostas de governo, ideologias ou princípios.
Como nos campos de futebol, em seus dias de torcida animalesca. Dois times, como Corinthians e Palmeiras, em dia de clássico, valendo o campeonato. Os ricos contra os pobres, os pretos contra o brancos, o Sudeste contra o Nordeste, os médicos contra os pacientes.
Em outros países de democracia sólida o resultado das eleições, seria no mínimo, respeitado por aqueles que não tiveram sucesso. Mas no Brasil, assim não será. O lado perdedor, desde o dia dos resultados, já preparou o discurso e começou a campanha. 'Dilma não terminará o governo, porque nós não permitiremos'.
Aqui não faço julgamentos, nem mesmo defesa da presidente Dilma. Se culpada for, que seja punida, inclusive com a perda do mandato. Mas o que preocupa é o discurso pró-impeachment que se instala, única e exclusivamente, por não se admitir o resultado das recentes eleições.
Fico com a seguinte sensação: se não ganha o candidato que queremos, impeachment nele! Partimos, desta forma, para um Brasil que afronta a democracia que tanto defende e diz ter. Parte do país, chega a desrespeitar os votos de cinquenta milhões de pessoas. Votos, que em sua maioria, são de pessoas menos favorecidas. O que reafirma o espírito de desigualdade e propõe um país sem iguais direitos para todos. Faz com que o voto seja diferente entre aqueles que tem dinheiro e aqueles que não tem.
O fazer política ganhou outros significados, é o legítimo toma lá dá cá. Políticos de partidos aliados se revoltam, não por causa das políticas públicas que estão sendo instaladas, mas por que ficaram sem dinheiro para fazer suas manobras estaduais ou perderam cargos e benefícios. A oposição não faz oposição apresentando ideias contrárias ou projetos melhores. Faz oposição para criticar, aparecer na mídia criticando e fazer com que o governo não dê certo. Afinal, é preciso criar munição para a próxima batalha, aqui entende-se próxima eleição.
Os casos de corrupção na maior estatal brasileira são absurdos. mas é importante lembrar que o caso Petrobrás é apenas uma amostra do que acontece pelo Brasil. Não podemos ser ingênuos e acreditar que o que a Polícia Federal nos revela é exclusividade da Petrobrás. Certamente, há casos parecidos em todos os órgãos públicos, sejam eles federais, estaduais ou municipais. E por que não desconfiar, inclusive, do setor privado. Acredite! No Brasil é assim! Muitos criticam o governo, levantam a bandeira de ladrões, mas usam a impressora do trabalho para imprimir o dever de casa do filho.
Também é curioso o tratamento da mídia neste caso, os veículos de imprensa se dizem imparciais, mas desde as eleições escolheram seu lado. E agora, não é diferente, decidiram dar destaque ao caso, como se tudo fosse culpa de uma só. Escolheram uma linha editorial de crítica, de esvaziamento moral, de afundamento da crise, com um discurso pró catástrofe, apocalipse.
É preciso cautela, digo e repito, o que mais preocupa é o desrespeito a um resultado de eleições democráticas. O Brasil escolheu e elegeu uma candidata. É preciso provas para condenar, conclusões precipitadas por um modismo barato e hipócrita não podem permitir a perda de uma democracia que tanto lutamos para conquistar.
Cautela, cautela, cautela!