Que o povo brasileiro está acostumado com a política do pão e circo todos nós sabemos. E até reclama quando ela não acontece. Para conquistar os moradores de uma cidade, basta oferecer um show, fazer uma festa agropecuária. Mas em tempos de carnaval, vale uma reflexão. Até que ponto festas populares, que muitas vezes envolvem empresas particulares, devem ser financiadas com o dinheiro público?
O carnaval é a festa mais popular do Brasil. Todos esperam a data para aproveitar os dias de folia. Mas desde o início de janeiro as notícias eram de que as cidades brasileiras e da região do Vale do Paraíba teriam eventos mais modestos em 2013. Prefeitos que assumiram os novos mandatos alegaram não ter dinheiro para bancar os desfiles das escolas de samba ou organizar uma estrutura mais sofisticada, como em anos anteriores, quando além de 'divertir o povo', o carnaval tinha objetivos eleitoreiros.
Os recursos públicos devem ser destinados a este 'bem comum'? As prefeituras devem financiar os desfiles? Ou talvez, as escolas deveriam se organizar durante todo o ano para conseguir dinheiro e colocar o desfile na Avenida. As feijoadas, os bingos, as rifas - todos estes mecanismos de arrecadação perderam espaço para a comodidade de grupos que preferem ver o financiamento dos desfiles como uma obrigação do governo.
É obrigação das instituições públicas oferecer infraestrutura adequada, segurança, etc. Mas não é obrigação do setor público financiar grupos, quando na verdade, outras áreas estão tão carentes, a exemplo da saúde e da educação. É preciso resgatar a essência das escolas de samba ou grêmios recreativos. Quando a comunidade se organizava, arrecadava dinheiro e pedia apenas apoio para desfilar.
O mais importante desta reflexão não é o fato, mas o que se pode tirar de toda essa história. Durante estes dias que antecederam o carnaval tive a oportunidade de conversar com as pessoas e todas não reclamaram dos eventos anunciados pela prefeitura de Pindamonhangaba, por exemplo. Diziam entender que há outras áreas que precisam dos investimentos e que destinar recursos ao carnaval, neste momento, não é o melhor a se fazer.
Se essa consciência do bom uso do dinheiro público for provocada em razão destes acontecimentos, talvez os gastos exagerados dos prefeitos no ano passado, que impediram as grandiosas festas este ano, tenha seu lado positivo.
É importante deixar claro que não sou contra o carnaval. Apenas acho que o dinheiro público não pode ser usado para este fim, quando pessoas morrem nas enchentes ou nas filas dos hospitais. O povo precisa aprender que a política do pão e circo não faz bem para o governo e nem para os cidadãos.