A televisão, definitivamente, mudou


O primeiro beijo gay, exibido pela TV Globo, entre dois homens, nesta ultima sexta-feira (31/01/14), e a novela de Walcyr Carrasco, 'Amor à Vida', não são fatos que chegam a representar o início de uma nova era da televisão brasileira. Ao contrário, foi apenas mais uma novela. Recheada de problemas, 'Amor à Vida' conseguiu cumprir seu papel: entreter a sociedade de massa. E só!

Mas o beijo gay, tão prometido e esperado, é o gancho que esperava para dizer que a televisão brasileira, definitivamente, mudou. E não mudou de ontem para hoje, tem mudado com o tempo. É curioso ver que há pouco menos de dez anos os aparelhos de TV eram enormes, sem muita tecnologia. Hoje, o 3D e suas promessas realistas os transformaram em verdadeiras janelas do mundo. Afinal, através da televisão, conseguimos acessar a internet, jogar com os amigos do outro lado do planeta, e até assistir um filme ou uma novela.

Essa tal tecnologia foi além e mudou a forma como os profissionais passaram a fazer televisão, houve ao longo destes últimos anos uma transformação que se apresenta de forma mais significativa em relação ao conteúdo.

O que se via há anos, não se vê mais. O jornalismo não mais o mesmo, porque existe a internet, as novelas não são mais as mesmas, porque a sociedade brasileira mudou, passou a ter acesso a outras culturas, globalizou-se. Sentiu outras necessidades, transformou-se. A televisão e seus realizadores sempre precisaram fazer de suas produções um espelho da sociedade. Se hoje dois homens e duas mulheres podem construir família sem preconceitos, a televisão não pode se negar a refletir na tela essa evolução. Por isso o beijo entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) não podem ser dimensionados como marcos e sim como mais uma prova de que a televisão, de fato, tenta se aproximar da sociedade, a partir de inúmeras necessidades e interesses.

Mas ao mesmo tempo, é preciso encarar: é o fim de um tabu. É hora de virar a página e incorporar o novo costume. Nos anos 70, divórcio causava escândalo. Nos 80, a independência feminina assustou. Tudo foi absorvido pela sociedade. A aceitação do amor entre Félix e Niko é a prova de que evoluímos. E assim deve-se continuar.

Também poderíamos citar os índices de audiência. Não é de hoje que não são mais os mesmos. Mas desta vez a explicação é fácil. O avanço das classes sociais e o acesso a computadores, tablets, e às operadores de TV a cabo mudaram os hábitos, abriu-se um cardápio a clientes cansados, por anos, de comer o mesmo. Agora os pedidos e as escolhas são outras.

Por fim, a última cena. Fotografia incrível. O resgate de um amor entre pai e filho. Um final feliz, talvez me arriscaria a dizer que essa cena salvou a novela, salvou o último capítulo. Um verdadeiro exemplo de 'Amor à Vida'.